sábado, 1 de novembro de 2008

EDIÇÃO 77 > MINISTÉRIO
Escola busca inovações para manter-se ativa e atrativa
Cristo usa conosco a persuasão do amor
Celso de Carvalho

Para Penha Mota, 43 anos, de Serras (ES), o domingo é sagrado. Há 14 anos ela tem a mesma rotina. Acorda às seis e meia da manhã, dá uma breve ajeitada na casa, toma seu café, confere os jornais e segue, junto com a filha, para a Escola Bíblica Dominical da Igreja Nova Vida. “Tenho sede de conhecimento e paixão pela Palavra. Lá na EBD, aprendi a orar e a meditar”. Para Penha e outros milhares de brasileiros, a Escola Bíblica Dominical é um espaço de debates, estudo e construção da fé cristã. Todavia, a EBD não é unanimidade. Enfraquecida em algumas regiões devido à falta de estrutura e investimento, há correntes que defendem uma remodelagem para que ela se torne mais atual, contextualizada e participativa.

Ao contrário de muitas histórias de conversão, a de Penha é inversa. Seu primeiro contato com o Evangelho se deu quando ela começou a freqüentar uma classe de EBD e, posteriormente, os cultos noturnos. “Pensam que a EBD é coisa do passado, mas isso é por causa daqueles que vivem um cristianismo sem compromisso”. De fato, a EBD, literalmente falando, é coisa do passado. A primeira surgiu em 1802, nos Estados Unidos, e foi fundada por William Elliot. No Brasil a primeira foi realizada em 19 de agosto de 1855, em Petrópolis (RJ), por Robert e Sarah Kalley. No primeiro encontro, Sarah contou com a participação de cinco crianças. Aquela aula foi suficiente para que seu trabalho florescesse. Essa mesma escola deu origem à Igreja Evangélica Fluminense, marco das Igrejas Evangélicas Congregacionais no Brasil.


Para o pedagogo Marcos Tuler, também pastor e autor de cinco livros na área de ensino, nenhum outro segmento da educação cristã possui um cronograma de estudo sistemático da Bíblia tão profundo, eficaz e abrangente







Eduardo Luis Carpenter tem um elo histórico com esse momento. Ele é bisneto de uma das crianças que estiveram nesse culto há mais de 150 anos. “A EBD serve de instrumento para a aproximação das pessoas e conseqüentemente à comunhão”, frisa ele, que é pastor da Igreja Congregacional da Cantareira, em Niterói (RJ).

À frente da direção executiva da Editora Sarah Kalley, Carpenter se dedica em trabalhar na confecção do jornal O Cristão – o primeiro periódico evangélico no Brasil, com 115 anos – e de elaborar material para estudos bíblicos nas revistas de EBD.

RAIO-X DA EBD

Com a explosão evangélica, o costume de freqüentar a EBD foi diminuindo com o tempo. É notória a diferença entre a assiduidade de antes e de agora, principalmente em relação aos cultos noturnos. Em média, é 40% menor, segundo especialistas. A maior desculpa é o cansaço, falta de tempo e mudança no foco para movimentos alternativos, como Escola de Líderes, Profetas, entre outros. Não há uma pesquisa atualizada e ampla sobre o desenvolvimento da Escola Bíblica no Brasil. A última foi realizada em 2000, sob encomenda da Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD). Através de doze mil questionários enviados, entre junho e agosto, a todos os estados do Brasil, foi possível traçar um raio-X sobre a EBD no meio assembleiano. Mais de 189 mil pessoas responderam ao censo. Os estados mais atuantes foram Minas Gerais (21,89%), Rio de Janeiro (17,45%) e São Paulo (17,15%). Das igrejas ouvidas, a média de freqüência corresponde a 47,53% dos membros e congregados. Em sua grande maioria, as classes são divididas por faixa etária, sendo a de adultos e jovens as mais fortes. Para 78,1%, a EBD tem a função de desenvolver a espiritualidade, para 45%, ganhar almas, e 60,94% acham que ela deve treinar os crentes para o serviço do Mestre.

O levantamento também revelou outros dados interessantes. Dos líderes ouvidos, apenas 69,82% afirmam que promovem campanhas para ganhar novos alunos. A divulgação interna sobre a função da EBD foi considerada regular para 25,44% e boa para 40% dos entrevistados. A justificativa para esse fenômeno, segundo o pastor Lécio Dornas, 43 anos, docente nacional do Instituto Haggai no Brasil, é que na maioria dos casos, por modismo ou por entendimento equivocado de novas propostas de organização eclesiástica, este momento de ensino está perdendo força. “Abolir a EBD seria puro modismo”, frisa.

Para o pedagogo Marcos Tuler, também pastor e autor de cinco livros na área de ensino, nenhum outro segmento da educação cristã possui um cronograma de estudo sistemático da Bíblia tão profundo, eficaz e abrangente. “Não há outra proposta educativa que possibilite um estudo completo das Escrituras ajustado à idade, à capacidade e à linguagem dos educandos de cada segmento como a EBD”, relata Tuler, chefe da Divisão de Escola Dominical da CPAD. De fato, as classes não são apenas um apêndice da estrutura geral. A EBD se confunde com a própria essência da igreja.

Mesmo com a percepção da importância desse método de ensino, existe ainda uma questão que vem preocupando dirigentes e líderes: como criar uma EBD participativa? José Humberto de Oliveira, editor e escritor da Editora Cristã Evangélica, acredita que é fundamental que o professor valorize o aluno, criando relacionamentos interpessoais saudáveis, aulas criativas e uso de dinâmicas. “O professor precisa ter sabedoria para aplicar temas às necessidades de sua igreja ou contexto cultural no qual está vivendo”. Oliveira realiza congressos para professores e superintendentes desde 1994 e tem experiência de sobra para avaliar tanto a performance de quem ensina, como o plano de aula e o interesse de quem aprende.

Outro segredo é o planejamento. Assim como a preparação de um sermão, uma aula também deve merecer estudo e pesquisa. E aulas apenas discursivas, onde o professor fala o tempo todo sem parar e sem recursos didáticos, tendem a ter cada vez menos espaço. E aí Lécio Dornas é taxatixo: “Todos os grandes pensadores foram grandes perguntadores”, parafraseando o escritor Augusto Cury no livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes.

Outro passo a ser dado, na visão de Paulo Martinez, que representa a Apec (Aliança Pró-Evangelização de Crianças), é que o professor deve ser criativo até na forma como seus alunos se posicionam em sala de aula. “Eles devem se assentar de tal maneira que possam ver os rostos uns dos outros”. Portanto, vale mudar a posição de mesas e cadeiras. Por que não?

Estimular a mente, aprofundar temas, instigar pesquisa, debates, painéis e encenações, pode ser um exercício motivador para o ensino do Evangelho. Tuler, por exemplo, acha que para a Escola Dominical ser atuante e participativa, seu líder deve cativar a atenção de sua clientela através das seguintes providências: administrar a escola de forma eficiente, elaborar um plano de crescimento, ampliar estruturas através de novos departamentos, organizar classes e mobílias; ter métodos criativos de ensino; obter apoio e investimento da liderança. Cada item desses não é uma tarefa fácil, principalmente quando faltam recursos.

E por falar em uso de boa criatividade, a Primeira Igreja Batista em São José dos Campos (SP) demonstrou que mudou a rotina da EBD. Alugou um espaço perto do templo e, aos domingos, as crianças e os pais são levados num trenzinho ao local.
A experiência aumentou a freqüência e deu mais qualidade às aulas.


“Todos os grandes pensadores foram grandes perguntadores”, lembra o pastor Lécio Dornas, que escreveu Socorro! Sou Professor da Escola Dominical





TECNOLOGIA E ENSINO

No passado, lousas ou quadros-negros eram usados. Hoje os recursos são os mais variados: datashow, revistas modernas, coloridas e ilustradas, vídeos e até o quadro digital, uma tecnologia que funciona com toques na tela do computador, selecionando informações. Ou seja, quando se pensa que o datashow ainda é equipamento moderno, surgem rapidamente outras alternativas com maiores condições de otimizar as aulas e o interesse dos alunos. “A EBD ainda não está acompanhando o desenvolvimento tecnológico e os recursos disponíveis para melhorar o ensino”, frisa Martinez.

A preocupação é pertinente, já que as crianças de hoje são constantemente ligadas à modernidade. “Infelizmente, há regiões em que alguns ainda sonham com o jurássico retroprojetor”.

O melhor recurso não pode estar dissociado da melhor qualidade de ensino. Nesse momento, o questionamento passa a ser: professor de Escola Dominical precisa ter formação específica? Lécio Dornas dá sua resposta, defendendo que, antes de qualquer coisa, é preciso ter o dom do ensino.

O pastor também aborda a necessidade de treinamento para a capacidade de interpretação. Em seu livro Socorro! Sou Professor da Escola Dominical, ele fala exatamente sobre o tema, bem como o uso de recursos didáticos e revistas que também tenham conteúdo voltado para a realidade da região da igreja.

José Leonardo, 27 anos, da Assembléia de Deus de São José dos Campos (SP) viveu bem esse problema. Quando foi professor da EBD, percebia que os materiais eram descontextualizados e não correspondiam ao dia-a-dia dos fiéis. Com o tempo, ele tentou adaptar o conteúdo, aprovado pelos alunos mas reprovado pela direção, que o afastou do cargo. “Hoje não me sinto mais interessado em participar”. Outro problema vivido pelos professores são os atrasos na entrega dos materiais. Adeagna Laborba, de Manaus (AM), sofreu com isso. Superintendente da EBD, ela precisou repetir lições antigas e atrasar o andamento da escola para que o material chegasse a tempo. “Os alunos foram os maiores prejudicados”, justifica ela, mostrando que nem todos os dirigentes de sua equipe tinham formação pedagógica, portanto, precisavam de mais tempo para planejar as aulas. Aliás, ter pedagogos nas salas da EBD é luxo para poucas igrejas. No censo da AD, apenas 5,62% disseram ter formação pegadógica. A grande maioria foi escolhida pela voluntariedade e desejo de ensinar (62%) e maturidade espiritual (79%). O professor do Centro de Estudos Teológicos do Vale do Paraíba (SP), José Humberto de Oliveira, endossa a pesquisa se referindo à seleção dos professores, mencionando três pontos: vida, conhecimento e unção. “É preciso ter conhecimento mínimo sobre educação. E também não basta ter conteúdo; é preciso saber como ensinar o que se sabe”.



SAIBA MAIS

Manual do Professor de Escola Dominical – Marcos Tuler, CPAD
Recursos Didáticos para Escola Dominical – Marcos Tuler, CPAD
Dicionário de Educação Cristã – Marcos Tuler, CPAD
Ensino Participativo na Escola Dominical – Marcos Tuler, CPAD
Abordagens e Práticas da Pedagogia Cristã – Marcos Tuler, CPAD
Socorro! Sou Professor da Escola Dominical – Lécio Dornas, Editora Hagnos
101 Idéias Criativas para Professores – David Merkh e Paulo França, Editora Hagnos

Na internet
www.editoracristaevangelica.com.br
www.apec.com.br
www.editoracentralgospel.com.br
www.cpad.com.br

Atualmente, surgem mais e mais variedades de material para as classes de EBD. Apesar disso, outro questionamento surge: será que esses produtos têm qualidade? Quando deve acontecer a renovação de livros e revistas? O pastor José Humberto afirma que essa troca deve ser constante. “Cada geração exige uma nova maneira de pensar e agir. Nosso material sempre sofre uma renovação”, conta ele, que trabalha à frente da Editora Cristã Evangélica. Sobre crianças, a Apec entende e observa que é preciso que o currículo atenda à necessidade espiritual do segmento. Recomenda que isso deva ser feito através de pessoas comprometidas com o ensino.

Para o pastor Eduardo Carpenter, o futuro da Escola Dominical é se tornar cada vez menos dominical, se espalhando por outros dias da semana. “Da mesma forma, e atendendo às necessidades da pós-modernidade, o templo deixará de ser local exclusivo e as casas e outros espaços deverão ser ocupados”, finaliza.

Um comentário:

Unknown disse...

QUERIDA IRMÃ,
PARABÉNS PELO BLOG, ESTIVE PESQUISANDO ALGO SOBRE MINISTÉRIO INFANTIL E AMEI AS MSG.

DEUS TE ABENÇOE.

MARIANA
PONTE NOVA /MG